Atividade física e epilepsia

Pessoas portadoras de epilepsia são menos ativas fisicamente em comparação com a população geral. Frequentemente, são aconselhadas a não praticarem atividade física por medo de novas crises, preconceito, superproteção ou mesmo desconhecimento acerca do tema. Mas será que a prática de atividade física realmente prejudica a saúde de pessoas com essa condição? Neste artigo, trataremos sobre os benefícios da atividade física para os portadores de epilepsia, quais as atividades mais indicadas e quais demandam maior atenção e análise dos riscos.
Pacientes com epilepsia frequentemente demonstram medo de ter uma crise durante a prática de atividade física. No entanto, estudos têm demonstrado que o risco de ocorrência de uma convulsão durante a atividade é menor que em repouso. Um estudo realizado com aproximadamente 15000 jovens com epilepsia, acompanhados ao longo de 36 anos, demonstrou que nenhum deles apresentou crise durante a atividade física. Lennox, em 1941, já havia notado essa relação: “as atividades física e mental parecem ser antagonistas das crises. A epilepsia prefere atacar quando o paciente está desprevenido, em repouso ou dormindo”.
Há consenso na literatura científica de que não há razão para proibir a prática de esportes em pessoas portadoras de epilepsia. Pelo contrário, tal prática deve ser incentivada. Sabe-se que a redução da atividade física está associada a uma maior frequência de comorbidades e menor qualidade de vida. Estudos evidenciam ainda benefícios, como diminuição de descargas epileptiformes no eletroencefalograma, diminuição na frequência de crises, melhora da cognição, do desenvolvimento psicossocial, da independência e da saúde mental. Além de uma contribuição para a saúde cardiovascular, diminuindo riscos de infarto, acidente vascular cerebral, controle pressórico, entre outros benefícios. Esses são observados em todas as idades, mas principalmente na infância. A atividade física ajuda ainda a evitar a exclusão social.
Há diversas modalidades de atividade física. Percebe-se uma controvérsia na literatura sobre quais tipos de exercícios pacientes com epilepsia podem praticar. No entanto, para facilitar as orientações, a Liga Internacional contra Epilepsia publicou e classificou os grupos de atividade de acordo com o risco, conforme Tabela 1. Destaca-se que cada caso deve ser discutido com o neurologista para avaliação de riscos e benefícios inerentes a cada modalidade física.

Tabela 1: ILAE, 2016

 

As atividades classificadas no grupo 1 podem ser praticadas pela grande maioria dos portadores de epilepsia, sendo consideradas seguras e de baixo risco para o paciente. Atenção especial deve ser dada para os que possuem epilepsia reflexa induzida por exercícios, pois tais atividades podem eventualmente induzir crises.

Já as outras atividades do grupo 2 e 3 devem ser analisadas com maior cautela. As variáveis envolvidas para liberação do exercício físico são a probabilidade de ocorrência de uma convulsão, o tipo, o momento usual de ocorrência e o risco a qual o paciente aceita se expor. À medida que o paciente possui maior controle de suas crises, a prática de atividades do grupo 2 podem se tornar mais viáveis. As atividades do grupo 3 geralmente não são indicadas.

Considerando os benefícios da prática de atividade física, não deixe de conversar sobre quais atividades são melhores para você em suas consultas com neurologista.

 

Referências bibliográficas:

  1. van den Bogard, F., Hamer, H. M., Sassen, R., & Reinsberger, C. (2020). Sport and Physical Activity in Epilepsy. Deutsches Arzteblatt international117(1-2), 1–6
  2. Capovilla, G., Kaufman, K. R., Perucca, E., Moshé, S. L., & Arida, R. M. (2016). Epilepsy, seizures, physical exercise, and sports: A report from the ILAE Task Force on Sports and Epilepsy. Epilepsia57(1), 6–12.
  1. Pimentel, J., Tojal, R., & Morgado, J. (2015). Epilepsy and physical exercise. Seizure25, 87–94
  1. Vieira, Douglas E. et al. Efeitos benéficos do exercício físico nas epilepsias: o judô faz parte deste contexto?. Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology [online]. 2007, v. 13, n. 3
Post anterior
Afinal, o que é afasia?
Próximo post
Bloqueio anestésico de nervos cranianos: uma opção de tratamento para enxaqueca