Tive uma crise convulsiva, tenho epilepsia?

Depende! A epilepsia é uma predisposição persistente do cérebro em gerar crises convulsivas. Uma crise convulsiva é classificada basicamente em provocada (quando causada por alguma circunstância como intoxicação, glicemia baixa, trauma entre outros) e não provocada.

Se uma crise é provocada por hipoglicemia, por exemplo, então não é epilepsia. Ao se resolver o problema, aumentando a glicemia no caso, a crise convulsiva ou risco dela também se solucionam. Ou seja, crises provocadas não são epilepsia.

A epilepsia é definida pela ILAE (Liga Internacional contra Epilepsia) com os seguintes critérios:

-Ocorrência de duas crises epilépticas não provocadas ou reflexas separadas por um intervalo de 24h.

ou

-Presença de uma crise não provocada e risco estimado pelo médico maior que 60%.

 

Figura 1: Definição de epilepsia

 

O número “60%” vem do estudo de Hauser et al. (1988), no qual foram acompanhados pacientes por mais de 60 meses e observaram a recorrência de crise após convulsão não provocada. Verificaram que, após uma primeira convulsão, o risco de ter uma nova (diagnóstico de epilepsia) gira em torno de 21% a 33% no período entre 12 e 60 meses. Enquanto após uma segunda ou terceira crise, o risco de recorrência foi similar variando entre 60 e 75% no período entre 12 e 60 meses.

Figura 2: Risco de recorrência de novas crises após a primeira, segunda ou terceira crise não provocada. Adaptado de Hauser et al. (1998)

 

Baseado nisso, o diagnóstico de epilepsia também pode ser realizado após uma primeira crise não provocada, desde que o risco de recorrência da mesma atinja 60%. Esse risco seu médico irá avaliar de acordo com sua história clínica e seus exames (eletroencefalograma, exames de imagem etc.), justificando ou não o uso de profilaxia anticrise.

Então de maneira simples: teve uma crise convulsiva? Procure um médico para avaliação de qual tipo de convulsão (provocada ou não provocada), estimativa riscos de recorrência (diagnóstico ou não de epilepsia) e tratamento mais adequado para o seu caso.

 

Referências:
1.Fisher RS, Acevedo C, Arzimanoglou A, et al. ILAE official report: a practical clinical definition of epilepsy. Epilepsia 2014; 55:475.

2. Hauser WA, Rich SS, Lee JR, Annegers JF, Anderson VE. Risk of recurrent seizures after two unprovoked seizures. N Engl J Med. 1998 Feb 12;338(7):429-34.

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