A epilepsia é uma doença em que o cérebro possui uma tendência espontânea de gerar convulsões. Mulheres portadoras da doença eram previamente aconselhadas a evitar a gravidez. No entanto, isso não é mais uma verdade absoluta. A maioria significativa das gestações em portadoras de epilepsia são normais. A epilepsia não diminui a fertilidade das pacientes. No entanto, riscos devem ser avaliados.
RISCOS
1. Mulheres com epilepsia possuem um risco maior de complicações perinatais.
As complicações variam de leves a graves que incluem: sangramento, trabalho de parto prematuro, descolamento prematuro de placenta, baixo crescimento fetal, morte fetal e materna.
Tabela 1: Estudo retrospectivo realizado em que foram inclusas 69.385 mulheres com epilepsia e 2.049.532 mulheres sem epilepsia. (adaptado de JAMA/2015)
Observa-se um percentual maior de complicações em mulheres com epilepsia em comparação com aquelas sem essa condição. No entanto, o estudo revela que a maioria significativa das gestações não evoluiu para complicações.
2. As medicações utilizadas no tratamento de epilepsia podem aumentar o risco de teratogenicidade (malformações fetais).
O risco de malformações congênitas graves é em torno de 4-6% em pacientes que usam medicações anticrise, enquanto que, na população geral, esse risco é de 2-3%.
As alterações mais encontradas envolvem o sistema nervoso, coração, sistema urinário, anormalidades esqueléticas e fendas orais.
Importante ressaltar que cada medicação possui um risco diferente. As medicações com maior risco incluem: valproato, fenitoína, fenobarbital e topiramato. Atualmente, há medicações com maiores evidências de segurança. Por isso, a avaliação e o acompanhamento com neurologista, no planejamento da gravidez, é fundamental para minimizar tais riscos.
3. A gravidez pode interferir no controle da epilepsia.
Em mais de 50% dos casos, não há qualquer alteração no padrão de crises durante a gravidez. No entanto algumas mulheres podem experimentar piora das convulsões durante a gestação. Isso pode ocorrer devido às náuseas e aos vômitos, próprios do período gestacional, que interferem na ingestão dos medicamentos. É possível haver uma variação das concentrações dessas medicações no sangue das gestantes e provocar a incidência de convulsões.
ACOMPANHAMENTO DA EPILEPSIA DURANTE A GRAVIDEZ
Caso haja o desejo de gestação, isso deve ser comunicado e planejado com o neurologista. Recomenda-se que todas as gestações em portadores de epilepsia sejam planejadas. Isso minimiza riscos e confere mais segurança à mãe e ao bebê.
O neurologista avaliará o tipo de epilepsia, riscos individuais, qual o melhor tratamento e suplementação adequada. O acompanhamento regular deve ocorrer durante toda a gestação para monitorização dos medicamentos e de malformações fetais.
Para evitar crises durante o período de gestação, recomendamos:
1. Tome a medicação anticrise exatamente como prescrita.
2. Informe ao médico caso tenha iniciado qualquer medicação e sobre a ocorrência de vômitos (que estejam atrapalhando o uso do medicamento).
3. Procure dormir o suficiente.
Referências:
1. MacDonald SC, Bateman BT, McElrath TF, Hernández-Díaz S. Mortality and Morbidity During Delivery Hospitalization Among Pregnant Women With Epilepsy in the United States. JAMA Neurol. 2015;72(9):981–988. doi:10.1001/jamaneurol.2015.1017